Prof. Héctor Ricardo Leis
No sábado,dia 06 de setembro, às 17.00 horas, perdemos a companhia do Prof. Héctor Ricardo Leis. Sua morte é consequência de uma esclerose lateral amiotrófica (ELA), que o acompanhou durante alguns anos. Quem acompanhou mais de perto o desenrolar da enfermidade pôde comprovar que ele não foi apenas alguém que, durante a vida, sempre foi criativo e ousado, mas que também na hora da morte soube manter uma serenidade exemplar que chegou a surpreender não só os mais próximos, mas também a médicos e enfermeiros que estiveram com ele depois que passou a viver sob efeito de morfina em seus últimos dias.
Para lembrarmos melhor de sua instigante trajetória trajetória humana e acadêmica, vale lembrar alguns dados da sua vida:
Héctor Ricardo Leis nasceu em Buenos Aires em 1943. Estudou matemática, psicologia, filosofia e sociologia na Universidade de Buenos Aires. Veio ao Brasil em 1977, onde se licenciou em Ciências Sociais pela Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Nesta mesma universidade fez seu doutorado em Filosofia, além de ter feito mestrado na University of Notre Dame (EUA). De volta para a Argentina, foi professor de Ciência Política e do Ciclo básico na Universidade de Buenos Aires (UBA), e de Filosofia na Universidad Nacional de Rosario. Em 1989 voltou ao Brasil, assumindo a docência de Relaçoes Internacionais na PUC/RJ. A partir de 1992 esteve vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da UFSC, passando a lecionar tanto na graduação quanto no mestrado e doutorado em Sociologia Política e no Doutorado Interdisciplinar em Ciëncias Humanas. Deste programa foi durante mais de cinco anos o coordenador. Muitas foram as teses orientadas por ele, muitos foram os textos por ele publicados, inclusive uma terceira edição de seu A modernidade insustentável, cujo lançamento já estava previsto para o próximo dia 17 de setembro, num encontro promovido pela Pós-Graduação em Sociologia Política e pelo nosso Programa de PG Interdisciplinar em Ciências Humanas.
No PPGICH, foi coordenador por mais de cinco anos. A estrutura atual do Doutorado traz a marca de seu trabalho. Foi também por iniciativa dele que se criaram tanto a Revista eletrônica Interhesis, quanto os Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar, que posteriormente também se transformaram em revista eletrônica semestral. O Prof Héctor tornou-se um dos mais importantes defensores e debatedores da abordagem interdisciplinar nas ciências humanas.
O que não se pode esquecer é que Héctor Leis, sobretudo antes de iniciar sua trajetória acadêmica, teve uma ativa participação política na Argentina, primeiro no Partido Comunista, depois no peronismo, e, finalmente, numa das organizações revolucionárias que optaram pela luta armada, o que o levou ao exílio e a ser um refugiado político das Nações Unidas. Foi membro do Club de Cultura Socialista Pancho Aricó e do Forum de ONGs ambientalistas da ECO-92. Em 1989 estabeleceu-se definitivamente no Brasil, onde obteve a cidadania em 1992.
Eis alguns livros publicados por Héctor R. Leis:
El movimiento por los derechos humanos y la política argentina (2 vols.), Buenos Aires, 1989
Intelectuales y política (1966-1973): estudio del debate intelectual argentino, Buenos Aires, 1991
O labirinto: ensaios sobre ambientalismo e globalização. São Paulo Ed.Gaia,Blumenau/FURB, 1996.
A modernidade insustentável: as críticas do ambientalismo à sociedade contemporânea. Petrópolis, Vozes e Florianópolis, Edit UFSC, 1999.(Versão espanhola: La modernidad insustentable: las críticas del ambientalismo a la sociedad contemporánea, Montevideo/México, 2001);
Críticas minimalistas (em co-autoria com Selvino J. Assmann), Florianópolis, 2007
América del Sur en el mundo de las democracias de mercado (em co-autoria com Eduardo Viola), Buenos Aires/Rosario, 20
Testamento de los años 70. Terrorismo, política y verdad en Argentina. Buenos Aires, Katz Editores, 2013
Memorias en fuga. Una catarsis del pasado para asanar el presente. Buenos Aires, Sudamericana, 2013.
Acreditamos que, além de lembrar a personalidade do Prof. Hector, ainda guarda atualidade a Carta que ele escreveu em 2012 ao se despedir da UFSC, quando já convivia com a referida enfermidade
“Aos colegas, funcionários e alunos com os quais convivi na UFSC:
As pessoas devem estar preparadas para as passagens da vida, elas são uma parte essencial de sua condição humana. Por isso as despedidas são tão importantes, são liturgias do convívio. No dia 28 de maio passado aposentei-me, após quase 20 anos de UFSC. Pretendia ficar mais tempo, mas o destino marcou outro traçado e sou obrigado a despedir-me de vocês. Certamente não é um destino escolhido, mas é bem-vindo, estou aprendendo dele lições inesperadas.
Quero que saibam que minha passagem pela UFSC foi feliz e devo essa felicidade em boa medida a todos vocês. A minha parte dessa felicidade a devo, acredito, a ter feito tudo o que podia em prol do melhor ensino para meus alunos e da melhor universidade para a comunidade em geral. Caso tenha errado em alguma coisa ou sido injusto com alguém, peço desculpas de coração. Saibam, pelo menos, que não lembro ter feito isso de propósito.
A UFSC foi para mim um lugar de aprendizagem, de vida e de conhecimento, e também de afeto. Sou grato a todos vocês por isso.
Forte abraço,
Héctor Ricardo Leis”
É com estas e outras lembranças que o PPGICH agradece pelo privilégio de ter contado com a companhia e a contribuição sempre corajosa e qualificada do Prof. Héctor.
Selvino J. Assmann
Coordenador do PPGICH – setembro de 2014
